Um dos aspectos que pode diferenciar um atleta bem sucedido de um com pouco êxito é o controle da ativação. Rod Laver, ex-jogador de tênis profissional, considerado por muitos como o melhor jogador de todos os tempos, relatou o que fazia quando ficava tenso:
“O que sempre funcionou melhor para mim toda vez que eu sentia estar ficando tenso para jogar um bom tênis era simplesmente lembrar que a pior coisa, pior coisa mesmo, que poderia acontecer era perder uma maldita partida de tênis”. (Weinberg & Gould, 2001, p.270).
A ativação é definida por Samulski (2002, p. 83) como “um estado geral do organismo, no qual uma pessoa pode agir ativamente numa situação de exigências específicas”. Ela também representa a base energética da seleção, pois o organismo dispõe de um potencial energético que é liberado no sistema reticular. Também é descrita como um indicador do estado de vigília do indivíduo, podendo variar entre o sono profundo e uma grande excitação. Murray (2002) define a ativação como o conjunto de efeitos dos diferentes níveis de energia variando entre o sono profundo até uma excitação extrema, e esta energia é dirigida para o interior de cada uma das quatro dimensões corpo-mente separadamente (pensamentos, sentimentos, ações e sensações). Por exemplo, a ativação pode influenciar nas sensações físicas, (frequências cardíacas e respiratórias, temperatura da pele, condutividade elétrica da pele, ondas cerebrais), nos pensamentos (concentrar-se mais intensamente), nas emoções (irritabilidade, excitação, etc.) e nas ações (correr mais rápido, pular mais alto, bater com mais força). Weinberg & Gould (2001) definem a ativação como sendo uma combinação de atividades fisiológicas e psicológicas em uma pessoa referente às dimensões de intensidade de motivação em um determinado momento que varia num continuum desde a apatia até à intensa agitação.
Dentre as diversas características da ativação podemos citar a intensidade da conduta, que é produto da interação das variáveis externas e internas do organismo. Ela pode ser específica ou não-específica e pode ser medida através de diferentes respostas fisiológicas. Entre os aspectos que afetam a ativação podemos encontrar tanto aspectos situacionais (incerteza, novidade, etc.) quanto sensibilidade dos diversos sistemas sensoriais, mantendo uma relação com a ansiedade em seu aspecto fisiológico, mas não na sua interpretação cognitiva (Cervelló, 1999). Além disso, a ativação pode ser considerada de grande importância para a “disposição, compreensão e rendimento dos atletas” (Samulski, 2002, p. 83), sendo que um grau ótimo de ativação auxilia numa boa percepção e otimiza a coordenação das sequências motoras.
Murray (2002) cita algumas fontes de energia possíveis para a ativação. Uma delas corresponde aos estados de humor ativos: por exemplo, quando um indivíduo está alegre, irritado ou tenso, seu humor está num estado mais ativo do que quando ele está triste, ou cansado, havendo alteração de estado de humor por meio de um adequado controle da atenção. Outra fonte é a excitação competitiva, pois a competição gera uma energia abundante e pode ser um combustível abundante se houver divertimento e amor pela luta no esporte. A boa forma física, com uma boa alimentação e descanso trazem uma energia extra para as atuações mais cansativas. As influências sociais são um estimulante, pois o apoio social positivo pode ser um grande recurso nas partidas com poucos espectadores ou com adversários antipáticos. A confiança e a autoestima são poderosas fontes de energia. Por último, a visualização e a autoinstrução se forem bem utilizadas podem trazer uma energia positiva.
Relação entre ativação e desempenho
Um importante aspecto da ativação é sua relação com a performance. Dentre as teorias propostas, uma foi aceita durante muito tempo pela maioria dos pesquisadores da área da Psicologia do Esporte, que é conhecida com a Teoria do “U invertido”, descrita por Yerkes & Dodson em 1908. De acordo com Weinberg (1988), a ativação (arousal) aumenta e o desempenho a acompanha até um determinado ponto ótimo, após este nível o desempenho tende a cair. Segundo este autor, cada indivíduo tem sua própria curva de desempenho. Ou seja, os níveis ótimos de ativação podem ser mais altos ou mais baixos de acordo com o atleta. Esta teoria também demonstra que um nível muito baixo de ativação pode prejudicar o desempenho, pelo fato do atleta estar muito relaxado. Da mesma forma, um nível muito elevado também pode afetar o rendimento, por excesso de tensão.
Se compararmos os melhores jogadores da atualidade, podemos notar claras diferenças quanto aos aparentes níveis de ativação: Roger Federer aparenta ser bem mais calmo e relaxado (ativação mais baixa) do que Rafael Nadal, que pula e vibra muito mais ao longo da partida (ativação mais alta).
Por fim, é muito importante que o tenista aprenda a encontrar o seu nível ideal de ativação para ter mais chances de atuar em sua zona ideal de desempenho.
Até a próxima coluna e bons jogos!